Rosácea: novas abordagens para diagnóstico e manejo

O estudo do Dr. Neal Bhatia destaca uma abordagem mais centrada no paciente no tratamento da rosácea, com foco nos fenótipos clínicos em vez dos subtipos tradicionais. Novas terapias incluem doxiciclina em dose baixa, minociclina tópica e peróxido de benzoíla encapsulado. Pesquisas investigam também hidroxicloroquina, secuquinumabe e análogos de sulfato de heparano. Ingredientes naturais, como alcaçuz e aveia coloidal, ganham espaço como coadjuvantes. A ênfase está na individualização do tratamento, boa tolerância e melhora da qualidade de vida.

Dra Daniela Leal - Dermatologista - RQE: 66973

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Resumo em áudio:

Introdução

O tratamento da rosácea deve ser encarado como um processo contínuo, centrado no paciente, com ênfase em educação e planos terapêuticos individualizados. De acordo com o Dr. Neal Bhatia, diretor de Dermatologia Clínica no Therapeutics Clinical Research (San Diego), o controle do eritema é a principal demanda dos pacientes — mas sem comprometer a tolerabilidade do tratamento.

Diagnóstico baseado em fenótipos

Desde 2017, a National Rosacea Society propôs um modelo diagnóstico baseado em fenótipos, substituindo a abordagem por subtipos clínicos. Essa mudança facilita o reconhecimento de padrões morfológicos predominantes e permite intervenções focadas nos sinais mais incômodos ao paciente.

Dois achados são considerados diagnósticos isolados:

  • Eritema centrofacial persistente com exacerbações periódicas

  • Alterações fimatosas

Alternativamente, o diagnóstico pode ser feito com a presença de dois ou mais achados maiores: flushing, telangiectasias, lesões inflamatórias e manifestações oculares.

Terapias mais recentes e redução do uso de antibióticos

Novos tratamentos têm priorizado ações anti-inflamatórias com doses subantimicrobianas, visando minimizar o uso de antibióticos sistêmicos:

  • A doxiciclina em doses de 40 mg e 100 mg demonstrou eficácia equivalente em 16 semanas. Peso corporal e gravidade clínica não impactam a resposta terapêutica a doses baixas, segundo análise de 2022 coautoria de Bhatia.

  • A minociclina tópica (foam 1,5%) foi aprovada em 2020. Atua diretamente nas camadas dérmica e epidérmica com baixos níveis plasmáticos e reduz a produção de MMPs e da LL-37.

  • O peróxido de benzoíla microencapsulado a 5% (aprovado em 2022) demonstrou eficácia e excelente tolerabilidade por até 52 semanas em estudo de extensão de fase 3.

  • Outras moléculas em investigação incluem hidroxi­cloroquina e o inibidor da IL-17 secuquinumabe.

Análogos de sulfato de heparano e tratamento com laser

Pesquisas recentes indicam que análogos de sulfato de heparano, não degradáveis pela heparanase, podem inibir a liberação de IL-8 induzida pela LL-37. Em estudo randomizado de 2023, pacientes submetidos a PDL (pulsed dye laser) + creme com sulfato de heparano apresentaram redução superior do eritema em comparação com grupo controle.

Mecanismos Biológicos e Marcadores Moleculares

A análise de biomarcadores revelou que o ômega-3 isoladamente modulou positivamente a expressão de:

  • PAI-1 (inibidor do ativador do plasminogênio-1): Reduz inflamação e fibrose.

  • Leptina: Regula metabolismo e inflamação.

  • TIMP-1 (inibidor tecidual da metaloproteinase-1): Inibe a degradação da matriz extracelular, essencial para a integridade da pele.

A combinação das intervenções também reduziu os níveis de:

  • B2M (beta-2 microglobulina): Marcador de inflamação sistêmica.

  • GDF-15 (fator de crescimento e diferenciação 15): Associado à senescência e estresse celular.

Esses marcadores estão associados à inflamação crônica, remodelamento tecidual e senescência celular — mecanismos centrais no envelhecimento cutâneo e sistêmico.

Fitoterápicos e abordagens naturais

Muitos pacientes buscam opções naturais. Ingredientes como alcaçuz (Glycyrrhiza glabra e inflata), aveia coloidal e feverfew demonstram propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, como a inibição da COX e redução de superóxido. Cremes com licochalcona A (do alcaçuz) mostraram eficácia na redução do eritema induzido por barbear ou radiação UV.

Séruns botânicos com extratos de pepino, tomilho, folha de oliveira, raiz de amoreira e grapefruit têm sido usados como adjuvantes a procedimentos estéticos como laser e microagulhamento por radiofrequência, promovendo maior conforto pós-procedimento.

Considerações finais

O manejo moderno da rosácea deve priorizar a experiência do paciente, respeitar o fenótipo clínico e contemplar estratégias de manutenção e combinação terapêutica. Ainda há lacunas a serem endereçadas, como o manejo de não respondedores, manutenção além de 16 semanas e abordagem de pacientes com pele etnicamente diversa — aspectos destacados no consenso de 2024 sobre lacunas terapêuticas.

Referência Bibliográfica

Este artigo é um resumo e uma análise baseados na apresentação de Neal Bhatia, MD, Diretor de Dermatologia Clínica na Therapeutics Clinical Research em San Diego, proferida no mais recente Simpósio Anual de Dermatologia Integrativa (Integrative Dermatology Symposium).