Ivermectina Oral na Dermatite Seborreica: Uso Off-Label em Casos Refratários

A ivermectina oral vem ganhando espaço como alternativa em dermatite seborreica refratária, especialmente quando há suspeita de demodicose associada. Importante: a evidência científica atual permanece limitada, sem ensaios clínicos controlados específicos para esta indicação, baseando-se principalmente em relatos de casos e extrapolação de dados de rosácea e demodicose.

Dra Daniela Leal - Dermatologista - RQE: 66973

3 min read

Resumo em áudio:

Estado Atual das Evidências

Pesquisas recentes (2020-2025) revelam lacunas críticas na literatura. Nenhum ensaio clínico randomizado foi publicado especificamente para ivermectina oral em dermatite seborreica. A principal evidência disponível é uma série de casos pequena (n=8) usando ivermectina tópica 1%, que demonstrou boa resposta, mas dados sistêmicos são extrapolados de estudos em rosácea e demodicose.

Limitações da evidência atual:
  • Ausência de estudos controlados dedicados

  • Classificação GRADE: “Muito Baixa Qualidade”

  • Nenhuma sociedade dermatológica recomenda oficialmente

  • Uso baseado em experiência clínica e mecanismos plausíveis

Os mecanismos de ação foram melhor elucidados recentemente, mostrando efeito duplo: controle do Demodex folliculorum e propriedades anti-inflamatórias através da inibição das vias NF-κB e STAT-3. Estudos demonstram que o Demodex está presente em 50% das lesões de dermatite seborreica versus 12,5% em controles saudáveis, justificando a abordagem terapêutica direcionada.

Quando Considerar o Uso Sistêmico

Cenários clínicos apropriados:

O emprego da ivermectina oral deve ser reservado para casos específicos onde terapias convencionais falharam. A seleção criteriosa de pacientes é fundamental, considerando a limitação das evidências disponíveis.

  • Dermatite seborreica facial refratária após múltiplos tratamentos tópicos

  • Doença extensa facial/corporal

  • Alta densidade de Demodex documentada (>5-11 ácaros/cm²)

  • Suspeita de sobreposição com demodicose ou rosácea papulopustulosa

O algoritmo recomendado inicia com falha da terapia padrão, seguido por tentativa de ivermectina tópica 1% quando disponível, reservando a via oral apenas para casos verdadeiramente refratários com componente demonstrado de Demodex ou inflamação significativa.

Evidências e Posologia

Estado atual da evidência:
  • Estudos específicos para dermatite seborreica são escassos

  • Maior parte das publicações envolve casos refratários

  • Uso basicamente empírico, extrapolando dados de outras condições

Protocolos de Dosagem

Na ausência de diretrizes oficiais, os protocolos derivam de experiência clínica com demodicose e rosácea. A dose padrão é 200-250 µg/kg via oral, podendo ser repetida após 1-2 semanas conforme resposta clínica.

Administração prática: Para um paciente de 60kg, a dose corresponde a 12-15mg (2-3 comprimidos de 6mg). A administração deve ser feita em jejum com água, evitando alimentos gordurosos nas 2 horas seguintes para minimizar absorção excessiva e reduzir risco de eventos adversos.

Perfil de Segurança Atualizado

  • Gestantes, lactantes, crianças <15kg

  • Hepatopatas descompensados

  • Interações com varfarina e inibidores da P-glicoproteína

  • Polimorfismos do gene mdr-1

A neurotoxicidade, embora extremamente rara, pode manifestar-se como confusão, ataxia e raramente convulsões, especialmente em pacientes com fatores predisponentes.

A ivermectina é habitualmente bem tolerada, mas dados recentes (2020-2025) documentaram eventos adversos raros, porém sérios que merecem atenção. A farmacovigilância identificou reações cutâneas adversas graves em 4,8% dos casos sistêmicos, incluindo síndrome de Stevens-Johnson.

Eventos adversos comuns: prurido, rash, tontura e alterações hepáticas transitórias (geralmente leves e autolimitados).

Contraindicações e precauções importantes:

Considerações Práticas e Limitações

É fundamental compreender que a dermatite seborreica mantém seu curso crônico mesmo após uso de ivermectina. O medicamento funciona como ferramenta adjuvante em casos selecionados, não substituindo o controle tópico contínuo com antifúngicos e anti-inflamatórios.

Antes de prescrever:
  • Obter consentimento informado sobre limitações da evidência

  • Explicar que se trata de uso off-label

  • Estabelecer protocolo de acompanhamento adequado

  • Avaliar cuidadosamente a relação risco-benefício individual

O acompanhamento deve incluir avaliação da resposta clínica em 4-6 semanas, monitoramento para eventos adversos e ajustes no esquema terapêutico conforme evolução. É importante manter expectativas realistas, pois casos refratários à ivermectina são documentados na literatura, requerendo abordagens terapêuticas alternativas.

Referência Bibliográfica

  1. Liu J et al. Oral ivermectin in the treatment of refractory seborrheic dermatitis: a case report and review. Dermatol Ther (Heidelb). 2021;11(1):327–331.

  2. Tamer E, et al. Oral ivermectin treatment in papulopustular rosacea and demodicosis: two case reports. J Cosmet Dermatol. 2019;18(5):1436–1439.

  3. Stein Gold LF. Emerging off-label uses of ivermectin in dermatology. J Drugs Dermatol. 2020;19(4):s12–s16.

Artigo elaborado para atualização médica dos participantes da Comunidade Derma Lounge

Baseado em evidências científicas atuais até julho de 2025